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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A GRANDE MALHA...

Um Menino;
Um Comerciante;
Uma Professora;
Um Pai;
Uma Funcionária pública;
Um Atleta;
Um Deputado;
Um Militante partidário.

Um menino andava na rua, o dia estava muito frio, ele, com pouca blusa acabara de sair de casa para encontrar-se com alguns amigos, no caminho passou em frente a casa onde morava sua professora. 
Naquele momento, observou que a professora falava ao telefone em sua varanda. Aproximou-se para ouvir a conversa, afinal, pensou, dependendo do que poderia ouvir, levaria alguma vantagem na escola, teria alguma coisa para contar aos seus colegas de classe ou até mesmo obter vantagens nas suas notas.
A professora conversava com um Pai que havia recebido a notícia de que seu filho tirara nota "0" na prova (com esta nota estaria praticamente reprovado de ano) e ao telefone tentava convencer a professora de alterar a nota. A professora argumentava com o pai, de que aquilo era uma injustiça com os demais que também haviam feito a prova e que esmeraram-se nos estudos. Com a insistência do pai, em tentar achar "um jeitinho" de solucionar o problema, a professora lembra que o pai é dono de uma loja de pneus. Havia muito tempo que a professora tentava trocar os pneus de seu carro, mas com seu salário de professora, isso era humanamente difícil, então, sedendo a insistência do pai, propõe uma troca. Pneus novo em seu carro,  nota nova para o estudante. Assim, ambos seriam beneficiados.
Ao desligar o telefone o pai começa a pensar se o custo valeria a pena, quase desiste da troca, afinal o custo de um jogo de pneus é alto; porém imagina seu filho tento que repetir toda a matéria do ano e decide prosseguir. Quando chega a sua loja de pneus, lembra que o Comerciante da loja em frente, outrora comentara sobre uma forma de alterar a declaração de impostos para pagar menos. O pai vai até o comerciante e pergunta-lhe se haveria como fazer o mesmo em sua loja.
O comerciante, prontamente se dispõe a ajudá-lo, porém informa que para isso, precisaria de uma quantia em dinheiro para oferecer a uma funcionária pública que cuidaria dos tramites, tornando o que era ilegal, legal. Para compensar, o pai teria que utilizar este "jeitinho" por pelo menos um ano, assim, sairia sem ônus algum; seria possível trocar os pneus da professora, mudar a nota do filho e manter sua renda.
O comerciante, recebe do pai o dinheiro, pega a metade e guarda no caixa de sua loja. O restante, leva até uma repartição pública, em um envelope, junto com os dados da loja do pai, entregando a funcionária pública. A funcionária vai até outra sala, onde conta o dinheiro, pega a metade e guarda em sua bolsa. A outra metade ela leva diretamente a sede de um partido político, onde encontra-se com um deputado, entregando-lhe os papeis com os dados do pai e o dinheiro.
O Deputado, sorri, senta-se em sua cadeira, faz alguns telefonemas e logo após informa a funcionária que está tudo certo. A funcionária vai para sua casa, afinal o dia de trabalho já estava ganho. O deputado comparece naquele dia em uma sessão da câmara para votar um projeto de lei, que criaria um programa de bolsas para atletas. Vota a favor, já que prometeu a um de seus militantes de campanha. O Militante, possuía um irmão que  iniciara a pratica de atletismo, mas que não conseguia dedicar-se ao esporte pela falta de incentivos e recursos, já que tinha que sustentar a esposa e o filho. Logo após a aprovação do projeto, o deputado liga para seu militante avisando que o projeto já estava aprovado e que logo, também colocaria em pauta uma emenda parlamentar, solicitando recursos adicionais para uma determinada instituição não governamental chamada "Laranja Esportiva" de propriedade do militante, que por sua vez também receberia recursos do programa de bolsas para esportistas; mas salienta, o recurso da emenda deveria retornar ao próprio deputado, descontada a parte que caberia ao militante. 
O militante vai para casa do irmão e comunica que enfim ele poderia dedicar-se ao esporte, pois seria financiado por um programa de bolsas do governo. 
O menino, aquele do início desta crônica, vai para escola no dia seguinte, ao sentar-se em sua carteira, observa que no quadro negro, a professora (aquela dos pneus) escrevera: 
- Corrupção, o mal que aflige nossa nação! 
Indignado, chama a professora em particular e conta que a ouvira ao telefone.
A professora, temendo punição, propõe ao menino, nota "dez" em todas as provas até o final do ano, em troca de seu silêncio.
O menino, que já pensara nas vantagens que obteria, aceita. Ao final da aula vai para casa, onde encontra seus pais, com uma bela mesa de jantar armada, comemorando, o Pai receberia dinheiro público para praticar esporte. Sentando-se à mesa, o menino aproveita o momento e conta o seu feito. Os pais o parabenizam.

Naquele dia, todos vão para cama. Descansam solenemente suas cabeças em seus travesseiros. Relaxam seus corpos nos colchões sob o calor dos cobertores, saciados, alimentados.
Enquanto isso, dezenas de milhares de seres humanos reviram latas de lixo, sob o frio da noite, procurando alguma coisa para alimentarem-se.

A grande malha corruptiva deste país, inicia-se exatamente onde termina.
Texto: Francisco Rafael Carneiro - 2011

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